A flexibilização da posse de armas de fogo no país foi um dos assuntos mais comentados durante a semana e dividiu opiniões. No Piauí, o secretário de Segurança Pública, coronel Rubens Pereira, considera perigoso os efeitos do decreto do presidente Jair Bolsonaro. Na contramão da facilidade do acesso a uma arma de fogo, o gestor avalia a possibilidade de rastrear as armas que entram no estado e diz que “arma só serve para matar”.
“Estamos avaliando rastrear as armas no Piauí. Uma política de rastreamento das armas é complexa, pois envolve outros estados aderirem a necessidade de um controle nacional. Mas vamos tentar fazer no estado, pelo menos, o que é possível fazer e o que está ao nosso alcance”, disse o secretário.
Relatório dos indicadores de criminalidade no Piauí revelou que a taxa de assassinatos a cada 100 mil habitantes foi de 18,78% no ano passado. O mapeamento referente a 2018 também revelou que 60% dos crimes violentos letais intencionais (CVLI) foram praticados com arma de fogo.
“Isso é um perigo. A arma de fogo não serve para outra coisa: a não ser para matar. Hoje, mulheres estão sendo mortas dentro de casa, vítimas de feminicídio. Muitas vezes, elas são mortas a pauladas. Imagina mais pessoas com posse de arma? isso é um risco, uma medida equivocada liberar mais ainda a posse de arma. O que temos que ter é um controle efetivo das armas no Brasil. E isso, não temos”, avalia o secretário de Segurança Pública do Piauí.
O secretário frisa que os indicadores da violência no país indicam que 71% dos CVLIs são praticados por arma de fogo.
“Quanto mais armas, mais homicídios. Estamos vendo esse decreto com preocupação. Achamos que esse não é o caminho adequado para uma política de segurança pública, mas vamos continuar lutando é um desafio de toda a sociedade”, completa Pereira.
(Foto: Reprodução/Agência Brasil)
Para o secretário, o problema da violência não se resolve com a construção de delegacias ou quartéis.
“Segurança pública não se faz apenas com quartéis, mais delegacias, mais policiais. No ano passado, o Ceará incluiu um efetivo que superou o daqui juntando Polícia Militar e Civil. No entanto, o estado de lá hoje vive uma crise”, completa.
ARMA NÃO DISPARA SOZINHA
Rubens Pereira acrescenta que a preocupação em flexibilizar a posse de armas é maior devido ao clima de intolerância por qual passa o país.
“A arma não dispara sozinha, mas porque o cérebro acionou e a preocupação é essa porque esse cérebro pode estar carregado de intolerância, de ódio e isso pode ter impactos severos na segurança pública. O que é mais importante é que o decreto acompanha uma série de requisitos a serem cumpridos. Temos que empreender mais ainda, principalmente no estado com o plano estadual de segurança pública, uma política para despertar a sociedade para a cultura da paz, da não violência”, finaliza o secretário.
Graciane Sousa
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