O coco babaçu é uma riqueza inestimável para o meio-norte do Brasil. Da casca, do mesocarpo e do fruto é possível retirar uma variedade grande de produtos. E é deste produto obtido através do extrativismo vegetal que mais de 400 mil pessoas, sobretudo mulheres, tiram o próprio sustento.
Essas pessoas são representadas politicamente pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins (MIQCB). A entidade, que atua desde 1990, tem como objetivo garantir direitos e regularizar o acesso das quebradeiras aos territórios de extrativismo, condição para o sustento das comunidades agroextrativistas.
No Piauí, a sede do MIQCB está no meio da região de matas de cocais, em Esperantina. O setorial abrange 11 municípios e abraça cerca de 680 famílias. Com o Movimento, os trabalhadores têm a oportunidade de melhorar as condições de trabalho e de vida na região de coleta dos frutos.
Bem articuladas, elas possuem uma alta capacidade de manter a organização do MIQCB, que hoje possui aliados no meio acadêmico e no seio internacional, como a União Europeia, a Fundação Ford e a ActionAid. A unidade da luta é pela valorização da mulher quebradeira de coco, o aumento do capital social e o fortalecimento para evitar violência contra essas trabalhadoras.
Do fruto elas conseguem captar até 65 produtos, como a farinha do mesocarpo, azeite, óleo, sabão, artesanato e outros derivados das partes do produtor natural. A cadeia saudável também rende benefícios ao meio ambiente, pois essas trabalhadoras valorizam os drupáceos que oferecem as tão ricas sementes oleaginosas desta dicotiledônea tão fundamental para o ecótono desta macrorregião.
Quem são as guerreiras das matas de cocais?
Você sabe quem são as guerreiras e guerreiros das matas de cocais? O Jornal Meio Norte foi ao Instituto de Terras do Piauí (Interpi), onde um grupo de dezenas de trabalhadores do babaçu estavam reunidos para pedir a regularização fundiária do espaço onde extraem o fruto.
Para Helena Gomes, coordenadora regional do MIQCB, “nosso trabalho é duro, difícil”. “O coco é duro, mas somos fortes e guerreiras. Porque além de quebrarmos o coco, também temos que quebrar correntes e barreiras da vida. Por tudo que temos direito. Sabemos que temos nossos direitos, mas temos que sair da mata para lutar para a terra e a liberdade do coco”, explica.
O coco é a principal fonte de renda das famílias. “Nós quebramos o coco e tiramos o azeite. Também tem outros produtos. Levamos para as feiras, mercado institucional e em todos os lugares que nos dão oportunidade. É um produto que aumentou muito a renda das mulheres, neste trabalho todo manual”, acrescenta Helena.
O MIQCB melhorou bastante a qualidade de vida das quebradeiras de coco do Piauí. “A associação tem 25 anos e antes éramos muito desinformadas. Por conta da prisão do coco, começamos a nos organizar como mulheres para fugir desse monopólio dos grandes produtores”, conta Helena Gomes. (L.A.)